domingo, 18 de agosto de 2013

Mobilidade urbana na Copa 2014 pode ter sérios problemas

O colapso na mobilidade urbana apontada por especialistas durante a Jornada Mundial da Juventude pode se repetir durante a Copa do ano que vem. Os turistas  que visitarão a cidade durante o campeonato ainda têm um perfil bem diferente dos peregrinos da JMJ. Os governos municipal e estadual do Rio de Janeiro se comprometeram a entregar três projetos relacionados à mobilidade para o megaevento, no primeiro semestre de 2014. A questão, no entanto, vai além dos prazos de entrega das obras e esbarra na questão da efetiva importância delas para a solução dos problemas existentes. O sistema de Bus Rapid Transit (BRT) da Transcarioca, por exemplo, seria um projeto que já nasce obsoleto, acreditam especialistas em planejamento urbano.
A Prefeitura do Rio de Janeiro é responsável pelo andamento de dois projetos para a Copa do Mundo de 2014, a Transcarioca e o Projeto de Reurbanização do Entorno do Estádio do Maracanã e Ligação com a Quinta da Boa Vista. O primeiro, de acordo com a Secretaria Municipal de Obras do Rio de Janeiro, está com obras dentro do cronograma e tem cerca de 70% do projeto concluído, com previsão para ser entregue no início de 2014. A segunda, do entorno do Maracanã, deve ficar pronta no mesmo período. Já foram executadas as fundações da estrutura e agora trabalham na concretagem dos 14 pilares da passarela. A parte do projeto que incluía a urbanização no entorno do estádio - calçadas, acessibilidade, iluminação e paisagismo - já está pronta. O terceiro projeto seria a Estação Multimodal do Maracanã, a cargo da Secretaria de Estado de Transportes do Rio de Janeiro. De acordo com nota da assessoria, a estação Maracanã da SuperVia ficaria fechada para obras a partir do último sábado (17/08), para construção de uma nova estação multimodal. A previsão de entrega é a mesma dos outros dois projetos.

Construção da ponte estaiada da Ilha do Governador, que integra o pacote de obras da Transcarioca
"O argumento da pressa [para entregar melhorias para a Copa] é usado e acionado para justificar a ausência de um debate democrático da fiscalização, dos procedimentos. Eu acho que o Rio vive uma crise de mobilidade grave, que não vai se resolver sem uma discussão aprofundada sobre esses projetos que estão sendo construídos". Orlando ressalta problemas no projeto dos BRTs, o primeiro seria relacionado ao fato de estarem concentrados na Zona Sul, Barra e Centro da cidade, o segundo seria a concentração dos investimentos apenas na cidade e não no entorno; e o terceiro as falhas em termos da integração dos diferentes modais de transportes.Orlando Alves dos Santos Junior, doutor em planejamento urbano e regional e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, reforça que a crise de mobilidade experimentada pelos turistas durante a JMJ é experimentada pela população todos os dias, e que ela vai além da entrega ou não dos projetos prometidos na área pelo governo para Copa. Ele realizou uma visita técnica ao BRT na Barra e chegou à conclusão de que se trata de um sistema que já nasce "obsoleto". Para ele, o debate em torno do calendário das obras para os megaeventos funciona apenas para excluir da agenda a discussão sobre a eficiência desses projetos. A implantação deles ainda causaram grandes impactos, como as remoções.
Gerônimo Leitão, professor da Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluiminense (UFF), alerta para o caso dos Jogos Panamericanos de 2007, que não teriam deixado nenhum legado prometido em mobilidade urbana e em outras questões. "A mobilidade ainda é algo crítico no caso do Rio. Há uma expectativa no que diz respeito a essas intervenções serem cumpridas. A Transcarioca resolve, mas uma 'andorinha só não faz verão'".
As obras prometidas como legado da Copa, acredita Mário Beni, professor de Turismo da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade de Brasília (UnB), não atingem nem 30% do que era necessário.  "Esse [mobilidade urbana] foi um item da Copa que pouco se fez. Eu até me surpreendi com os demais itens, mas mobilidade realmente eu diria que no geral não chegou a 30% do que se deveria chegar", afirma.
Beni reforça que a maioria dos turistas que visitarão o país durante o megaevento de 2014 serão os sul-americanos, com pequena parcela de norte-americanos, europeus, árabes e asiáticos. "Esses turistas têm um comportamento diferente (do comportamento dos que participaram da JMJ). O europeu, o americano e o asiático se preocupam com mobilidade com segurança. Se preocupam muito com a questão do tráfego, principalmente do Rio, que tem uma imagem internacional, infelizmente, de violência. Eles se preocupam em ficar parado no tráfego". 
Postado por: Euclides Avila - Coordenador de Comunicação.

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