domingo, 5 de maio de 2013

Depois de grande seca, Sertão de Alagoas renasce com as chuvas

Ouro Branco – Após mais de um ano de rigorosa seca, o Sertão nasce de novo. A vegetação devastada pelas altas temperaturas volta a ganhar tons de verde e o solo, que por muito tempo não passou de barro duro e estéril, é agora a terra fofa em que os sertanejos semeiam esperança. “O Sertão é assim mesmo. Ele tira de você e depois dá de volta, para a gente não esquecer o valor do trabalho e de cada coisa que a gente tira da terra”. É a sábia explicação dada pela agricultora Elci Batista de Lima.

Na comunidade onde ela vive, o sítio Serrotinho, zona rural de Ouro Branco, a seca devastou plantações e dizimou parte do rebanho bovino e caprino, principal atividade econômica da região. Mas, bastaram poucos dias de chuva para que ela e outros agricultores voltarem para a roça. “Agora é trabalhar e pedir a Deus que continue mandando chuva”.

Com a ajuda dos filhos e dos animais da propriedade, ela já lavrou a terra e plantou feijão de arranca, feijão de corda e milho, além de destinar uma pequena área para o cultivo de mandioca. Segundo ela, apesar do plantio ter sido atrasado – em outros anos costumava acontecer no final de março e início de abril – há esperança de boa safra.

Sertanejo não perde tempo e semeia a terra molhada

Por toda zona rural de Ouro Branco é possível encontrar agricultores trabalhando mesmo debaixo de chuva. Para o trabalhador rural Marcos Vieira da Silva, do sítio Duas Barras, não dá para perder tempo.

"A gente tem que aproveitar que a terra está molhada para plantar o quanto antes. Qualquer coisa que a gente conseguir colher já vai ser melhor do que no ano passado já que ninguém plantou nada. Quem pode, está plantando, e quem não pode, fica só olhando, fazer o quê?", justificou o trabalhador rural.

APOSTA

O agricultor mostra a área que semeou somente na tarde de quarta-feira usando uma plantadeira manual, quando a reportagem passou pelo local. Mesmo em dúvida em relação à continuidade da chuva, resolveu apostar no feijão de arranca e no feijão de corda, cujo preço aumentou muito nos últimos tempos.

"Por aqui, já chegaram a oferecer até R$ 500 pelo saco de feijão, sem nem olhar a qualidade. Sei que só chegou nesse preço porque ninguém tinha para vender, mas mesmo que o preço caia muito, pelo menos no ano que vem a gente não vai precisar comprar feijão, como comprou nesse", declarou o agricultor.

Terra no Sertão está molhada só por cima

Piranhas – O agricultor Cornélio Anselmo da Silva, que vive no sítio Tanque, no município de Ouro Branco, confessa que não ficou muito otimista com as chuvas que caíram na região nos últimos dias.

"Até que me animei no começo, mas quando fui cortar a terra para fazer os canteiros de feijão vi que o chão ainda não está molhado. A quantidade de chuva ainda é muito pequena e quando a gente finca a enxada, vê que a terra está molhada só por cima. Precisa chover mais forte para molhar o chão de verdade", afirma o agricultor.

Segundo ele, o início tardio da plantação é outro motivo para a safra ser fraca este ano. Cornélio explica que, mesmo que continue chovendo até o mês de julho, não vai ser suficiente para que os pés de feijão plantados agora atinjam o ponto de ser colhido.

"O inverno acaba e o feijão para de se desenvolver antes de chegar no ponto de ser arrancado", justificou o trabalhador rural.

Em Pariconha, chuva ainda não anima agricultor

Pariconha – Enquanto muitas sertanejos comemoram a volta das chuvas, algumas comunidades do Alto Sertão continuam sofrendo com a falta dela. Como é o caso do agricultor João Ricardo, da comunidade Vieira do Moxotó, no município de Pariconha.

“Por aqui, choveu uma vez só. Todo o mundo ficou esperando continuar chovendo como nas outras regiões, mas não choveu mais. Ainda arrisquei plantar um pouquinho de milho e feijão por aqui. Não nasceu quase nada e então vieram os passarinhos e comeram”, lamenta o agricultor, que possui terras às margens do Rio Moxotó, que separa Alagoas de Pernambuco.

Mesmo com as chuvas em outras regiões de Pariconha, o leito do rio, que nem os mais velhos da comunidade viram seco, continua sem água, a não ser por algumas poças de água salobra que foram cavadas pelos próprios moradores da região, para dar de beber aos animais.

“Esse rio vem de lá de cima, de Pernambuco, e pelo jeito lá continua sem chover também, porque já aconteceu de estar seco por aqui, e o rio estar cheio de água, porque chove na nascente”, declarou.

Estiagem chega ao fim diz meteorologista

Arapiraca – Apesar da desconfiança de alguns sertanejos de que o período de chuvas, após mais de um ano e meio de seca, chegou ao fim, o meteorologista da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), Emanoel Teixeira, explica que o Nordeste chegou ao período de quadra chuvosa, os quatro meses – entre abril e julho – em que há o maior índice pluviométrico. Em tese, a seca chegou ao fim.

“A seca, na verdade, é um fenômeno climatológico que acontece todos os anos no Nordeste, entre os meses de setembro a fevereiro quando praticamente não ocorrem chuvas. O que aconteceu, no ano passado, foi que a estiagem se prolongou e não houve período de chuvas, como está acontecendo agora”, explicou o meteorologista.

Segundo ele, apesar do fim da estiagem, os sertanejos não podem esperar que ocorram chuvas na mesma quantidade dos anos anteriores à seca. Emanoel Teixeira explica que a tendência, que tem se confirmado até agora, é que os índices pluviométricos permaneçam abaixo da média, principalmente nas regiões Agreste e Sertão.
Fonte http://gazetaweb.globo.com/noticia.php?c=339921&e=14
Postado por: Euclides Avila.

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